O PÃO DELES DE CADA DIA
Do pequeno casebre, a chaminé vomitava rolos de fumaça na manhã friorenta. Jorgina, os cabelos espigados ainda de sono, olhou o marido agachado junto ao fogão de barro, tentando esquentar os nossos doloridos de dormir a noite toda encolhido; em cima da chapa de ferro, uma chaleira velha fervia a água para coar o café.
Teve pena. mas teve que pedir, senão ele ficava o dia inteiro encostado no fofo.
Mané: Chamou com a voz arrastada e trêmula – O cê tem que buscar uns peixes, num temo nadinha, só pão seco e um tiquinho de café.
Manuel ergueu os olhos encorujados, expiou e perguntou.
- Cadê os mininus¿
- Num sei , deve ta durmindu ainda –respondendo a mulher sem jeito.
Intão, manda eles lá nu rio busca uns bagres – disse Manoel se achegando mais pra boca do fogão. Ela foi com o coração apertado de dó. “acordar os coitados com esse frio... mas tinha que ser... precisavam de comida”, foi pensando a mulher com a velha preocupação de todas as mães.
Que vida – resmungou quase que para si mesma. Os meninos fora cheios de resmungação. Os pés descalços quebrando o gelo da geada no capim. As varas de bambu em cima dos ombros. A lata de minhocas, tiradas ali na beira do quintal, o mais novo carregava.
Logo voltaram.
Manhê! Gritou o mais velho. O rio está cheio de peixe morto! E tem uma coisa preá grudadas neles.
Por: Ivo Mendes – (pescador)
Fonte: Jornal “ótimos Negócios”